O professor e astrofísico cearense Daniel Brito de Freitas, coordenador do Stellar Team, do Departamento de Física da Universidade Federal do Ceará (UFC), é um dos descobridores de um exoplaneta, planetas que existem fora do sistema solar. O astro era até então desconhecido e a conquista científica contou com a participação de estudiosos de outros estados e países.
“Várias pessoas colaboraram com a descoberta. Pesquisadores de países como Chile e Alemanha. Destaco a liderança da pesquisa do professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Izan de Castro Leão”, afirmou o pesquisador ao G1.
O estudo do planeta fora do sistema solar começou em 2013. Após muitas análises os pesquisadores chegaram à conclusão de que se tratava realmente de um exoplaneta, distante cerca de 2.900 anos luz de distância da Terra no aglomerado de estrelas intitulado IC 4651. Porém, o que o astrofísico mais ressalta na descoberta é que o exoplaneta possui semelhanças com o gigante gasoso do sistema solar, o planeta Júpiter.
“A observação começou há alguns anos, entre os anos de 2013 e 2015, e as análises que surgiram neste período ajudaram a constatar a existência do exoplaneta. Uma das coisas que destaco no estudo é a aparência dele com Júpiter. No entanto, é ainda mais gigante que Júpiter. A massa dele é, mais ou menos 6,3 vezes maior”, diz.
Por esse fato, de acordo com Daniel, existe boa possibilidade haver próximo ao planeta alguma “Super Terra”, já que ao redor do exoplaneta há um cinturão lembrando o de “Kuiper” que existe próximo a Júpiter. No Cinturão de Kuiper existem milhares de pequenos corpos, e até grandes rochas parecidos com cometas. A grande massa de Júpiter impede desses corpos celestes atingirem a Terra, permitindo o desenvolvimento de organismos mais complexos.
“Júpiter tem um papel importante e que ajuda o nosso sistema solar. Ele serve como um ‘protetor gravitacional’. Devido a sua grande massa, Júpiter trabalha como escudo para asteroides e outros corpos celestes impossibilitando que estes saiam de sua órbita e cheguem até a Terra”, conta.
Nome popular do planeta
O nome dado pelos pesquisadores ao exoplaneta é IC 46519122B. O astro deve receber em breve um nome popular. “Participei recentemente de um congresso na cidade de Viena, na Áustria, e durante o evento ficou decidido que o exoplaneta pode sim ser batizado com um nome mais popular e quem sabe brasileiro”, conta.
O professor explica o que significa cada trecho do nome científico: “O IC é o nome do aglomerado de constelação que o exoplaneta se encontra. Já o número 9122 corresponde à estrela [que o planeta orbita] e a letra B categoria mesoplaneta.”
Observação ideal do exoplaneta
Uma notícia ruim para os amantes da astronomia no Ceará. Infelizmente o exoplaneta não poder ser visto por aqui. Daniel conta que o local ideal e único para observá-lo é na Cordilheira dos Andes, no Chile.
“Quase não há nuvens e poluição luminosa lá, é alto, tornando a observação perfeita. Existe menos atmosfera como também nuvens entre o observador e os astros. As cidades com muita poluição impossibilitam a observação do exoplaneta”.
Os estudos do Stellar Team são desenvolvidos em parceria com universidades no mundo todo e com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte. A espectroscopia foi feita com o equipamento HARPS (um buscador de planetas por velocidade radial com alta resolução), acoplado a um grande telescópio localizado no Chile e operado pelo Observatório Europeu do Sul, parceiro do grupo.
A pesquisa que descobriu o IC 4651 9122B será publicada na conceituada revista Astronomy & Astrophysics e inaugurou a linha de pesquisa em exoplanetologia no Departamento de Física da UFC.
Fonte: G1 CE