O mês de novembro é, anualmente, quando se reforçam os trabalhos de prevenção e conscientização contra o câncer de próstata. E não é para menos. A doença, que mata cerca de 42 homens por dia em todo o Brasil, deve revelar-se em 2.730 novos casos até o fim deste ano no Ceará, de acordo com estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Destes, 560 devem incidir sobre homens em Fortaleza.

Entre 2014 e 2018, mais de 3 mil pessoas do sexo masculino morreram no Estado vítimas da doença. Somente até outubro deste ano, o número de óbitos chegou a 458. Os dados são do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Datasus.

Os números preocupantes reforçam a importância da campanha do Sistema Verdes Mares, durante todo o mês, com reportagens e ações envolvendo a população numa reflexão sobre o tema.

Em todo o País, ainda conforme o Inca, a estimativa é que se chegue a 68 mil novos casos de câncer de próstata no biênio 2018-2019, o que corresponde a sete novos casos diagnosticados por hora.

De crescimento lento e silencioso, é o 2º de maior incidência entre os homens no País, atrás apenas do câncer de pele. Não apresenta sintomas em seu estágio inicial, por isso a recomendação médica de manter os exames preventivos atualizados é tão reforçada, especialmente se o homem possui os principais fatores de risco. Entre eles, segundo o médico urologista Humberto de Holanda, está o histórico familiar e a obesidade associadas ao sedentarismo.

“Se o homem tem parentes de primeiro grau com câncer, como pai ou irmão, aquilo leva a um risco maior. A chance já dobra em relação ao resto da população e se vai aumentando a quantidade de parentes esse risco também vai aumentando. Outro fator de risco é ser um indivíduo da raça negra. Não se sabe ao certo porque, mas estatisticamente se vê mais tumores em negros, em idade mais precoce e, às vezes, com cânceres um pouco mais agressivos. A alimentação ruim, com muito carboidrato, gordura, pouca fibra, além de poucas frutas e verduras contribui para a obesidade e o risco também aumenta”, diz.

O diagnóstico precoce aliado ao tratamento correto, segundo destaca o especialista, aumentam as chances de cura em até 90%. Quando em estágio avançado, acrescenta, causa sintomas como dificuldade ao urinar, sangue na urina, retenção urinária, além de dores ósseas, especialmente na coluna. Essa fase da doença no entanto, provavelmente já não é tratável.

“Pela Sociedade Brasileira de Urologia a recomendação é que se façam os exames de sangue e de toque, anualmente, a partir dos 45 anos para aqueles que possuem os principais fatores de risco e os que não têm a partir dos 50 anos. Fazendo os dois terão mais chances de encontrar, pois só em um pode haver falha”, explica Humberto de Holanda.

PREVENÇÃO
É exatamente essa a forma de prevenção buscada pelo motoqueiro Francisco Ailton Barbosa Barroso, 55, que já teve casos de morte por câncer de próstata na família. Embora a consciência desse cuidado esteja tão presente, manter o monitoramento todos os anos vem sendo um desafio, para ele que depende da rede pública de saúde.

Francisco conta que a espera por uma consulta no posto de saúde Humberto Bezerra, no bairro Antônio Bezerra, demorou meses, e ele acabou sendo encaminhado para uma unidade no Meireles. “Eu sempre ia na porta do posto, a mulher consultava no sistema e dizia que não tinha. Era sempre a mesma resposta. Fui reclamar com a assistente social. Contei a situação para ela que me encaminhou pra um outro posto”.

Na unidade, o paciente conseguiu ser atendido e realizar o exame de toque, que apresentou uma alteração, mas a preocupação agora diz respeito ao retorno ao especialista, conseguido apenas para maio de 2020. Além disso, ele diz que foi solicitada a realização de um novo exame para confirmar a presença ou não de um tumor: uma ultrassonografia transretal.

“Isso é muita coisa para quem descobriu no exame uma alteração de saúde. Você esperar seis meses pra poder ser atendido, é um absurdo. Quer dizer que a doença pode se propagar mais ainda e chegar a um certo ponto que não tem mais jeito”, lamenta.

A alternativa, acrescenta Francisco, é tentar conseguir dinheiro para fazer o procedimento na rede privada. “Eu vou fazer numa clínica particular porque com certeza, se eu chegar lá (rede pública), eles vão dizer que não tem vaga e eu vou ficar numa fila de espera de sete ou oito meses. O médico disse que isso eu tenho que fazer urgente. Preciso procurar alguém pra fazer uma vaquinha e poder fazer o exame. Não tenho o dinheiro todo”, lamenta.

ASSISTÊNCIA
O coordenador das redes de atenção primária e psicossocial da Prefeitura de Fortaleza, Rui de Gouveia, explica que se o paciente considerar haver demora na consulta, ele pode se dirigir ao o Núcleo de Atendimento ao Cliente (NAC) dos postos de saúde para que seja verificado o caso.

“Ele deve procurar a coordenação da unidade de saúde, que também tem acesso à gestão da marcação de exames e consultas especializadas. O gestor tem a capacidade de avaliar o agendamento para esse paciente e priorizá-lo”.

No entanto, o coordenador esclarece não haver, atualmente, fila de espera para urologista na rede municipal de saúde. “Estamos hoje com muita tranquilidade no município de Fortaleza porque não temos fila. Às vezes o que acontece: a pessoa é encaminhada naquele data e naquele dia específico não tinha a vaga, mas dois dias depois às vezes tem. A pessoa, quando é encaminhada fica numa fila, mas não significa que vai ter que esperar dois meses. Mesmo que ela não procure mais o posto a consulta vai ser marcada automaticamente”.

Ainda segundo Rui de Gouveia, os exames de ultrassonografia podem ser realizados no Centro de Atenção à Saúde do Homem (CASH), em Fortaleza, que dispõe de atendimento urológico.



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