O segundo semestre do ano costuma ser caracterizado, entre outras condições de tempo e clima, pelo aumento dos focos de calor. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o mês com a maior média histórica é novembro.
Até o momento, informações parciais do ano indicam que já foram registrados 364 focos. Em agosto, a média é de 315, saltando para 1068 no mês de setembro. Conforme o gestor da Unidade de Estudos Básicos da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), o aumento dos focos, assim como o de queimadas neste período está associado a diversos fatores.
“A partir do mês de setembro, indo para outubro e novembro, o cenário fica mais crítico de ocorrência de queimadas aqui no Ceará, normalmente, independente dos anos serem muito chuvosos ou não, a vegetação de caatinga ainda encontra-se numa situação, numa condição, muito seca”, comenta o pesquisador.
No ano passado, o Ceará registrou 3.979 focos de calor, conforme o Inpe. De acordo com a série histórica do órgão federal, que teve início em 1998, o ano com o maior número de casos foi 2003, quando registrou-se 11,626 focos.
“Um dos principais motivos em que no segundo semestre há uma ocorrência de queimadas no Estado do Ceará, deve-se ao fato de que nosso estado ele encontra-se mais de 80% do seu território recoberto pela vegetação de caatinga. Uma vegetação que, com a escassez das chuvas que ocorre logo a partir de julho, tende a ficar com seus galhos secos retendo umidade apenas suas raízes. E essa condição permanece ao longo de todo o segundo semestre Outros fatores são a elevação da temperatura e ventos fortes. Então, tudo isso gera uma combinação natural que favorece a ocorrência de queimadas. Agora, não é somente isso, não é só o ambiente natural. Geralmente, o homem, o agricultor, ainda mantém a prática do uso da queimada, do fogo para para limpar seus terrenos, às vezes, renovar as pastagens. Tudo isso são práticas que o homem do campo, sertanejo, ainda utiliza nos dias atuais”, explica Rodrigues.
Áreas mais susceptíveis
Em 2019, a Funceme publicou um estudo que mostrava áreas de 20 municípios com alto risco de incêndios florestais. De acordo com Manuel Rodrigues, o documento levou em consideração os mapeamentos temáticos como: cobertura vegetal natural, uso e ocupação da terra, unidades de paisagem, pluviometria média anual e índice de vegetação.
“Com uso de técnicas de geoprocessamento, estes mapeamentos passaram por um processo de integração, resultando no mapa que indica as áreas mais vulneráveis à ocorrência de incêndios florestais”, explica Rodrigues.
As áreas com maiores riscos estão situadas predominantemente nas regiões do médio Jaguaribe, Inhamuns e Centro-Norte do estado. Nestes locais, onde é comum a prática agropecuária, a pluviometria média anual varia entre 700 e 800 milímetros, o que colabora para o índice de vegetação extremamente seco.
O mapeamento das áreas de riscos de incêndios florestais do Ceará é uma importante ferramenta para o orientar o estabelecimento de estratégias de prevenção, monitoramento, controle de queimadas e combate aos incêndios florestais e, principalmente, subsidiar as políticas de autorizações de fogo controlado.