Já são quase quatro meses da pandemia de Covid-19 no Ceará, mais de 129 mil casos confirmados e 6,6 mil vidas perdidas. O luto por tantas histórias interrompidas mistura-se, contudo, à esperança: em todo o estado, 102.145 pacientes já se recuperaram da doença, com ou sem sequelas, conforme dados do Integra SUS, da Secretaria da Saúde (Sesa).

O maior número de casos se concentra na faixa etária de 30 a 39 anos de idade, com mais de 27 mil confirmações. Em se tratando de recuperação, os mais jovens são os que inflam os números: mais de 21 mil curas foram registradas entre pacientes de 25 a 34 anos. É a maior proporção de recuperados, correspondendo a 84,8% dos casos confirmados nesta faixa etária.

Apesar de terem sido registrados casos graves e contabilizadas 20 mortes por Covid-19 entre as crianças, pequenos de 0 a 9 anos de idade integram a faixa etária com menor número de confirmações, cerca de 3,6 mil.

No extremo oposto das fases da vida, os idosos de 80 anos ou mais têm a menor taxa de recuperação: a cada dez casos, menos de seis evoluem para cura. No total, foram confirmadas 6.271 infecções e 3.621 (58%) recuperações entre eles. Os recortes foram extraídos do IntegraSUS, com dados até as 8h58 da última quarta-feira (8), primeira atualização diária disponibilizada pela Sesa.

Influência
A infectologista Melissa Medeiros, que trabalha no Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ), em Fortaleza, afirma que além da gravidade do quadro, a idade dos pacientes tem “grande influência” na taxa de recuperação e na permanência ou não de sequelas.

“Geralmente, os mais jovens têm quadros mais leves. Jovens que têm casos mais complicados, em geral, tinham alguma comorbidade. E mesmo assim, justamente por serem jovens, se recuperam mais rápido. A dificuldade é entre os idosos”, pontua.

De fato, a porcentagem de cearenses recuperados diminui conforme o avanço da idade. Em média, 82,4% dos pacientes até 59 anos conseguem evoluir para cura ou ter alta hospitalar após internação por Covid-19. Já entre as pessoas com 60 anos ou mais, a média de recuperação cai para 69,8%, se comparados os números de casos confirmados e recuperados. Apesar disso, mais de 19 mil idosos no Estado já foram curados da doença.

Seguindo contra o fluxo negativo dos números, Antônia Cavalcante, 63; Fátima Cavalcante, 70; e Nilza Cavalcante, 95, constam entre os idosos recuperados do novo coronavírus em Fortaleza. As três, que pertencem a uma família na qual 17 pessoas contraíram a doença, manifestaram a forma mais grave da virose e foram internadas, assim como José Almir, 55, e Amanda Cavalcante, 25.

A mais velha entre eles, Nilza foi, inclusive, a 799ª paciente a ter alta no Hospital de Campanha Presidente Vargas, após receber os primeiros cuidados na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Itaperi. Segundo a sobrinha dela, Rayssa Alencar, 31, “toda a família está bem”, depois do susto nos meses de maio e junho, quando dez familiares testaram positivo para a Covid-19 e outros sete manifestaram sintomas típicos.

Problemas respiratórios
Na casa de Margarida Melo, 39, os dois filhos – Ana Lívia, 9, e Carlos Eduardo, 12 – foram acometidos pela Covid-19. Os pequenos contraíram a doença durante viagem aos Estados Unidos, onde apareceram os primeiros sintomas: febre, tosse e dor de garganta na mais nova; dor de cabeça e tosse no mais velho. Já de volta ao Brasil, mesmo com a saúde aparentemente restaurada, a família realizou exame para detectar a doença, e ambas as crianças testaram positivo no dia 23 de março.

“Primeiro, achei que fosse só mesmo a mudança de temperatura, mas depois meu filho também teve sintomas”, relembra. Segundo a administradora hospitalar, os filhos, ela e o marido permaneceram de quarentena, mas os adultos não foram infectados. “Eles tiveram os sintomas por uns três dias, mas mesmo assim nos isolamos. Graças a Deus, foi bem leve, e eles estão super bem, hoje”, relata.

A ausência de sequelas é favorecida pelo sistema imunológico ainda jovem, do qual a empresária Magda Helena, 39, sente falta. Uma das primeiras pacientes confirmadas com o novo coronavírus no Ceará, Magda foi diagnosticada na primeira quinzena de março, e afirma ter tido “um dos quadros mais graves” da doença. Apesar disso, por não pertencer a nenhum grupo de risco, ela não foi hospitalizada.

“Sentia uma falta de ar no nível de não conseguir levantar pra ir ao banheiro. Não tinha como fazer minha própria comida, fiquei completamente incapacitada, e morava sozinha. Tive febre por quatro dias, muita tosse, perdi o paladar, o olfato, e sentia muita fraqueza. Foi bem forte nos primeiros 14 dias, e nos outros 14 eu não tinha energia pra nada”, relembra Magda, contabilizando 28 dias do primeiro sintoma até a recuperação.

Ao contrário dos pequenos Lívia e Eduardo, a empresária sente ainda não ter recobrado a capacidade respiratória de forma plena. “Tô esperando passar a quarentena pra marcar consulta com um pneumologista e ver se tive alguma sequela nos pulmões. Fico cansada muito fácil. Sou palestrante e falava muito, participo de grupo de coral, mas hoje em dia, se falar um pouco mais, sinto falta de ar”, lamenta Magda, que chegou a fazer exercícios respiratórios por conta própria.

(GI CE)

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