Enquanto o sol que atinge o Ceará insiste em castigar o chão sertanejo, no Oceano Pacífico surge um fenômeno que pode trazer esperanças às famílias nordestinas para a próxima quadra chuvosa, melhorando, assim, a situação hídrica do Estado.

Desde agosto deste ano, as temperaturas próximas à região da Linha do Equador no Oceano Pacífico estão resfriando mais do que o normal. Dois meses após essa constatação, técnicos da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), nos Estados Unidos, confirmaram o início do fenômeno La Niña, que pode acalmar os termômetros e os ânimos dos cearenses.

De acordo com a meteorologista Maria Clara Sassaki, da Somar Meteorologia, o “La Niña potencializa a chuva da estação, especialmente nas áreas de interior, aumentando os volumes de precipitação”. A tendência é que, em decorrência do resfriamento das águas, a atmosfera também esfrie, fazendo com que os termômetros diminuam.

Segundo a especialista, há uma previsão de que a parte sul do Ceará, onde ficam cidades como Juazeiro do Norte e Barbalha, receba com maior intensidade essas chuvas. Entretanto, alguns índices “indicam diminuição nas chuvas entre a segunda quinzena de dezembro e a primeira de janeiro”, explica Maria Clara Sassaki. Isso acontece porque a água das nuvens fica concentrada entre Minas Gerais e Bahia, não permitindo o espalhamento da frente fria.

O supervisor de Tempo e Clima da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Raul Fritz, considera que a La Niña pode ajudar, mas aponta para outros fatores influenciadores nas precipitações. “Se tivermos condições favoráveis no Oceano Atlântico Tropical, ela ajuda, por isso depende de uma interferência dos dois”, explica.

Por essa razão, a Funceme aguarda até janeiro, mês em que a temperatura do Oceano Atlântico apresenta maior definição, para fazer um prognóstico da quadra chuvosa e das interferências do La Niña no Estado. “Se até lá o fenômeno estiver presente ele ajuda nas zonas de chuva, como uma espécie de complemento”, informa Raul Fritz.

O meteorologista pontua, ainda, a formação tardia do La Niña, cujo máximo ocorre entre dezembro e janeiro. “Ela está começando um pouco atrasada, por isso pode se dissipar, se extinguir ou desaparecer entre fevereiro e março”, acredita o profissional ao apontar que o ideal seria a atuação do fenômeno durante os meses de março, abril e maio de 2018.

Em decorrência disso, a previsão é de intensidade fraca do La Niña, que é medida pelo NOAA desde 1950. “Tem muita gente animada com a presença do La Niña, mas não é uma garantia de chuvas. Em outubro iniciou o fenômeno, agora para dizer que ele vai existir só em alguns meses para frente”, conclui.

Bacias

A interferência do fenômeno combinado à temperatura do Oceano Atlântico podem fazer com que os números da situação hídrica do Estado do Ceará sejam mais positivos. De acordo com o monitoramento da capacidade hídrica elaborado, ontem (17), pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará (Cogerh), o volume de água dos açudes cearenses é de 8,31% da sua capacidade total.

Segundo o levantamento, apenas as bacias do Coreaú possuem mais da metade do volume de água possível. As bacias do Sertão de Crateús e do Baixo Jaguaribe, por sua vez, estão com menos de 1% de sua capacidade. Dos 155 reservatórios monitorados, 121 estão com volume inferior a 30% de sua capacidade total e apenas um está com volume acima de 90%.



Fonte: Diário do Nordeste

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