Antiga demanda do setor de energia do Ceará e um dos principais gargalos para a atração de investimentos, a atualização do atlas eólico e solar está em fase final de conclusão e deverá ser lançado até a primeira quinzena de julho. No entanto, os principais pontos do estudo, que indica as áreas com maior potencial de geração, foram apresentados durante o congresso Brazil Windpower, maior evento de energia eólica da América Latina, realizado em São Paulo de 28 de maio até hoje.
Entre as principais novidades trazidas pelo novo atlas eólico e solar do Estado, que era aguardado há mais de uma década, estão os estudos sobre o potencial eólico offshore (para parques instalados no leito do mar) e em áreas do interior do Estado, considerando o uso de torres eólicas de até 150 metros de altura.
O antigo atlas eólico cearense, feito no ano 2000, considerava torres de até 80 metros, o que acabou limitando a instalação de usinas no litoral, onde há condições favoráveis de vento mesmo em baixas alturas.
De acordo com Jurandir Picanço, presidente da Câmara Setorial de Energias Renováveis do Ceará e consultor de Energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), a área com potencial de geração no Estado aumenta significativamente com o uso de torres de até 150 metros de altura.
“O atlas foi atualizado para a tecnologia atual. Anteriormente, o potencial se concentrou no litoral. Agora temos a Chapada do Araripe, da Ibiapaba com um grande potencial”, ele diz.
Sobre a possibilidade de construção de usinas offshore, Picanço diz que o novo levantamento revelou a possibilidade de geração eólica em uma área de 10 mil quilômetros quadrados, onde a profundidade vai até 20 metros. Se forem consideradas as regiões com até 50 metros, a área passa para 19 mil quilômetros quadrados.
“O Ceará é privilegiado não só pelos ventos, mas pela sua plataforma continental que é de baixa profundidade”, aponta. Entre as vantagens da geração de energia no mar estão a velocidade e constância dos ventos nos diferentes horários do dia, diferentemente dos parques terrestres.
‘Energia valiosa’
Um dos aspectos levantados pelo atlas, que coloca o Ceará em uma posição vantajosa em relação a outros estados, são os horários de pico na geração eólica. De acordo com o “estudo de variabilidade horária e mensal do recurso eólico”, o Estado apresenta um potencial de geração nos horários de demanda superior a de estados como Rio Grande do Norte e Bahia.
“Nós confirmamos que a curva de geração eólica combinada no litoral e na Chapada da Ibiapaba acontece na hora da energia mais valiosa, que é no final da tarde e início da noite”, avalia Adão Linhares, secretário Executivo de Energia e Telecomunicações da Secretaria de Infraestrutura do Estado (Seinfra). “Esse é o nosso diferencial. A energia do Ceará tem mais valor do que a de outros estados. O nosso pico de geração é no momento de maior demanda, enquanto nos estados vizinhos ocorre mais na madrugada”, argumenta Linhares.
Geração solar
O atlas apresenta ainda o potencial de geração conjunta de energia eólica e solar, facilitando a conexão às linhas de transmissão. De acordo com o documento, somente o potencial de geração híbrida representa aproximadamente 50% de toda a oferta nacional dessas matrizes de energia no ano de 2017.
“O mapa mostra também as áreas degradadas do Estado, que não podem ser usadas pela agricultura, mas que podem ser usadas para a geração solar, por exemplo, nas regiões dos Inhamuns e médio Jaguaribe”, aponta Jurandir Picanço. Nessas regiões, além dos altos níveis de radiação solar, o baixo preço dos terrenos contribui para a viabilidade de projetos no segmento.
Investimentos
Para Adão Linhares, com o novo mapeamento do potencial de geração do Estado, abre-se uma “avenida de oportunidades para investidores”.
“A gente está mostrando tecnicamente números até conservadores. Podemos conjugar a geração eólica com solar, e ainda tem o offshore com uma viabilidade muito próxima do onshore (parques em terra)”, diz Linhares. “Foi uma surpresa o tamanho do nosso offshore, e mostra que nós estamos preparados para gerar energia no mar”.
Considerado o ponto de partida para os investidores, o atlas eólico e solar deverá facilitar a atração de investimentos para o Estado, diz Eduardo Neves, presidente da Agência do Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece).
“Vamos ter condições de mostrar para o investidor onde tem os melhores ventos, as melhores condições de radiação solar. Inclusive a questão ambiental vai estar no mapa”, diz Neves. O atlas foi elaborado pela Adece em parceria com a Fiec e Sebrae Ceará.
Fonte: Diário do Nordeste