Quem for mordido por animais e procurar tratamento contra a raiva humana em unidades de saúde do Ceará não encontrará soro antirrábico, substância que ajuda a desenvolver anticorpos neutralizantes no local do ferimento.
O estado enfrenta desabastecimento do material há quase um mês, já que a mais recente remessa do Ministério da Saúde, de apenas 20 ampolas, foi recebida em 20 de maio, de acordo com a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa).
A ausência do soro preocupa o comerciante Rinaldo Lacerda, que foi mordido pelo próprio cachorro em 3 de junho, enquanto tentava medicar o animal. No mesmo dia, ele procurou o serviço na cidade de Senador Pompeu, no interior do estado, onde mora, mas foi informado sobre a falta. No local, recebeu apenas a primeira das quatro vacinas indicadas para a profilaxia pós-exposição ao vírus.
No dia seguinte, o cachorro morreu, agravando a aflição do comerciante. “Me aperreei e fui procurar em vários lugares. Esse soro não vende em clínica particular. Me disseram pra ir a Fortaleza”, conta. Na capital cearense, ele foi informado de que não havia soro e nem previsão de chegada do insumo. Após dezenas de ligações, achou o soro em Cajazeiras, na Paraíba, a 220 km de onde mora, mas já havia passado o prazo de sete dias recomendado para receber o medicamento.
“Quando eu estava no hospital, vi duas pessoas com o mesmo problema: um com mordida de gato, outro com arranhão. Fica o alerta porque já estava faltando o soro há uma semana. Acho um descaso muito grande; eu poderia morrer por causa disso”, lamenta Rinaldo. Na segunda (17), ele deve receber a última dose da vacina.
A recomendação do Ministério da Saúde é que o soro seja administrado junto com a vacina antirrábica. No caso deste insumo, a distribuição está regular, ainda conforme a Secretaria da Saúde. O Ministério da Saúde foi procurado pelo G1, mas não informou o motivo da falta de novos repasses ou prazo para a normalização do envio.
Prevenção
Entre 2007 e 2018, foram confirmados cinco casos de raiva humana no Ceará, segundo a Secretaria da Saúde. Mesmo com a baixa incidência, a doença preocupa por ser fatal em praticamente todas as ocorrências. A melhor forma de prevenção ainda é a vacinação de animais que participam do ciclo urbano da doença, como cães e gatos.
Em 2018, o estado vacinou 1,6 milhões de animais e superou a meta de 80% durante a Campanha de Vacinação Antirrábica. A Secretaria da Saúde informa que a vacina está disponível nos centros de zoonoses, durante o ano inteiro, para cachorros e gatos, machos e fêmeas, a partir de três meses completos de vida. O reforço deve ser realizado após 30 dias da primeira vacina.
Fonte: G1 CE