Com o início da corrida eleitoral no Ceará, as agremiações partidárias já começam a definir estratégias para impulsionar campanhas políticas no pleito deste ano. Diante da pandemia da Covid-19, as redes sociais, que vêm ganhando cada vez mais espaço no cenário político, serão ainda mais essenciais para as campanhas eleitorais. As ferramentas digitais, no entanto, não devem substituir as abordagens corpo a corpo, principalmente no interior do Estado e em bairros periféricos da Capital, por conta das desigualdades sociais que ainda impedem muitos cearenses de sequer terem acesso à internet.
A cientista política e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Monalisa Soares, destaca que o ápice das redes sociais em campanhas foi em 2018, com a eleição do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e que agora o contexto de pandemia obriga os partidos a adotar estratégias mais enfáticas. “Nesse período de pré-campanha, os partidos já precisam começar a fazer estratégias que envolvam esse universo virtual. Líderes comunitários e líderes de grupo devem ser os canais de informação de divulgação sobre candidatos, fazendo com que se engajem em lives (apresentadas por candidatos nas redes sociais)”, exemplifica.
Ela salienta, ainda, que alguns grupos políticos já dominam as plataformas e têm um maior potencial para gerar engajamento, enquanto outros estão com “déficit”, precisando alinhar melhor estratégias rapidamente.
Monalisa enfatiza, no entanto, que conquistar a atenção do público nas redes sociais não, necessariamente, indica vantagem eleitoral, mas sim visibilidade, e isso pode ser utilizado de maneira positiva ou negativa.
Assim como Monalisa, o cientista político Cleyton Monte aponta que as diferentes formas de lideranças sociais serão responsáveis por fazer a ponte entre os candidatos e os eleitores, mas acrescenta que profissionais com habilidades em gerenciamento de redes socais devem ser bastante procurado pelos postulantes, para além de marqueteiros, porque é necessário saber como atingir seu público.
“As pessoas não estão preocupadas com isso, e muitas vezes não querem deixar de ver outra coisa para assistir a live de um candidato. Aí entram as lideranças. Só que, hoje, o grande influenciador do bairro é um digital influencer, é um grupo que está fazendo hip hop, é o pastor da igreja, são coletivos ou são representantes de comunidades católicas. Os partidos que não estão atentos a isso vão ficar para trás. Grandes eventos (de campanha) vão ser drasticamente reduzidos, e essas lideranças devem também atuar no corpo a corpo”, acrescenta.
Ele ressalta que a demonstração de organização dos partidos nas redes sociais vai poder ser exposta nas convenções de julho, onde são definidos os candidatos, já que elas vão ocorrer também de maneira remota. A medida foi autorizada no início do mês pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por conta do elevado número de casos da Covid-19.
Rádio e TV
Além do uso das redes sociais, outra importante ferramenta vai ser a utilização da propaganda eleitoral gratuita no rádio e televisão, nos municípios com estações próprias. Monte ressalta que o consumo desses veículos aumentou durante a pandemia e que os meios de comunicação tradicionais continuam sendo uma das mais importantes veículos de informação em campanhas políticas.
Monalisa Soares concorda e ressalta que os veículos ainda possuem uma “capilaridade” muito maior do que as redes. “As mídias tradicionais conseguem manter-se como um lugar confiável de informações e para (os políticos) apresentarem as suas ações”, explica.
Ela ressalta, ainda, que nos locais o controle da desinformação também é maior, com inclusive punições com redução de tempo da propaganda eleitoral ou direito de resposta em casos de divulgação de fake news.
Partidos
Cientes que a atual situação exige uma readequação no modo de realizar campanhas, as agremiações no Ceará já estão traçando estratégias para o fortalecimento de nomes de futuros candidatos. O presidente do diretório estadual do PDT, deputado federal André Figueiredo, diz que um planejamento da cúpula nacional, respeitando as diferenças entre as regiões, será enviado provavelmente na próxima semana com diretrizes aos candidatos, incluindo orientações de “como otimizar as campanhas virtuais”. A legenda deve ter candidatos a vereadores e prefeito em cerca de 100 municípios cearenses.
Figueiredo destaca, ainda, que o partido deve adotar também estratégias de corpo a corpo, adaptadas ao contexto de pandemia, para alcançar candidatos e eleitores onde o acesso a internet ainda é uma barreira. “Vamos seguir as orientações do TSE. As estratégias do vão respeitar as nuances sociais. Têm distritos que não pegam internet, telefone. Há municípios com poucos ou nenhum caso de Covid-19. Nós vamos avaliar de acordo com o cenário da pandemia, para conciliar a estratégia com este cenário”, explica.
Já o presidente do PSL no Ceará, deputado federal Heitor Freire, pré-candidato à Prefeitura de Fortaleza, afirma que instruções jurídicas e contábeis para utilização das redes sociais já estão sendo repassadas a todos os pré-candidatos da sigla no Ceará. Ele acredita que a experiência do partido na eleição de 2018, que conseguiu eleger o presidente da República com bastante adesão a campanhas pelas redes sociais, deve ajudar nas campanhas virtuais deste ano. A legenda, que nacionalmente tem uma das maiores fatias do fundo eleitoral, deve lançar cerca de 700 candidaturas no Estado, entre vereadores e prefeitos.
A definição quanto ao adiamento das eleições municipais, em discussão tanto no Tribunal Superior Eleitoral como no Congresso Nacional, também deve influenciar nas estratégias dos partidos. “Nós só poderemos dar uma decisão exata quando a decisão sobre uma nova data for tomada”, explica o presidente estadual do PSDB, Luiz Pontes. “O importante é que nós não podemos deixar de estar em contato com o eleitor”, completa.
(Diário do Nordeste)