Mortos a facadas a poucos metros de casa, no Sítio Inharim, na zona rural de Viçosa do Ceará, na microrregião da Ibiapaba, os irmãos Iracione Almeida Cardoso, 8, e Francisco da Silva Cardoso Almeida, 10, completam a lista de dez crianças assassinadas no Ceará até agora em 2017. Em 2016, foram oito as crianças que tiveram as vidas ceifadas antes de chegar aos 12 anos de idade. Faltando ainda mais de cinco meses para fechar o ano, o número de 2017 já é 25% maior que o do ano anterior.
Os número foram levantados pelo O POVO a partir das estatísticas de vítimas de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).
Os irmãos saíram de casa na manhã do último domingo, 16, para colher capim que serviria de alimento ao carneiro recém-adquirido pela família.
O passeio teria sido interrompido por Francisco Rogério Soares Pereira, 26, e Iranildo Antônio de Araújo, 33. A dupla, autuada em flagrante por homicídio duplamente qualificado, por forma cruel e impossibilidade de defesa das vítimas, foi presa ainda na noite de domingo. Na tarde de ontem, um adolescente de 15 anos também foi apreendido. Conforme a Polícia Civil, ele teria confessado a participação no delito, alegando ter sido forçado a segurar uma das vítimas para que Rogério desferisse as facadas.
Segundo o delegado Gregório Neto, titular da Delegacia de Viçosa do Ceará, o primeiro suspeito foi preso em uma praça da Cidade e confessou o crime. “Ele disse que estava com o outro no local que costumavam frequentar para usar drogas, quando ele o chamou para matar os meninos”, explicou.
A investigação aponta que os suspeitos utilizavam crack quando avistaram as crianças. “Acreditamos que não houve abuso sexual. Teve esse boato, mas só vamos confirmar que não houve com o resultado (da perícia)”, destaca Gregório. Os corpos dos irmãos foram encaminhados à Perícia Forense.
Infância
Para Thiago de Holanda, sociólogo e coordenador da equipe técnica do Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência, os homicídios na infância têm, historicamente, um percentual muito baixo em relação ao número total de mortes violentas intencionais. “O que leva às mortes (violentas) de crianças nessa idade geralmente são acidentes, principalmente no Interior. Os homicídios começam a crescer a partir dos 14 anos e se intensificam de 16 a 24 anos”, analisa.
Ele pondera o aumento neste ano em um comparativo com 2016, apontando que ano passado foi atípico. “Há que se levar em conta que, entre outros fatores, houve o fenômeno que foi o acordo entre as facções criminosas, que reduziu 40% dos homicídios totais. As mortes das crianças naquele ano também estão nesse contexto”, argumenta.
Categorizando como emblemáticos, o coordenador relembra outros dois casos este ano: o da menina Débora, 4, raptada e morta no Lagamar em abril, e do menino Gabriel, 3, que morreu na chacina de Horizonte, em junho.
O sociólogo comenta que o contexto social em que estão inseridas essas crianças pode aprofundar os números quando se pensa também na adolescência. “São crianças que estão em áreas em que há a convivência com crimes, áreas em que há o acesso à arma de fogo. Há relatos que acompanhamos de crianças que ouviram o tiro que matou o pai. O contexto em que esses homicídios se concentram e que temos analisado (no comitê) é que há um agravamento se essa criança cresce em áreas de vulnerabilidade, se for do sexo masculino e negro”.

Fonte: O Povo

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