A primeira etapa de matrícula foi finalizada, mas o resultado ainda é alvo de descrença. “Acho que a ficha só vai cair quando eu estiver lá dentro”, confessa a estudante Aline Mendes dos Santos, de 21 anos, natural de Sobral, na Região Norte do Ceará. Depois de três vestibulares, a jovem aluna de escola pública agora é caloura da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) na cidade.
“A minha vitória também é da educação pública”, celebra Aline.
Apesar do bom desempenho em outros anos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a nota não era suficiente para entrar no curso desejado pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Mas Aline não se abalou e voltou a se inscrever para tentar.
“Eu sempre quis ajudar a melhorar a situação financeira da minha família. Isso me impulsionou a não desistir mesmo quando eu não fui aprovada”, conta Aline.
Graças ao bom desempenho durante o Ensino Médio, a estudante conseguiu bolsa de estudo em um curso particular de preparação para o vestibular, em Sobral. Com intensa rotina de estudos, chegando a passar o dia na sede do cursinho, até a rotina dos pais de Aline mudou. Eles são empregados domésticos. “No início, eles não entendiam muito bem a necessidade do cursinho, mas quanto mais eu me empenhava mais eles vibravam com cada conquista minha, cada melhora na pontuação da redação”, relembra.
A família, então, passou a se fazer presente na preparação para o Enem. E isso gerou resultados bem particulares: o irmão caçula de Aline, Anderson, inspirou-se nela para tentar o vestibular novamente. Ele terminou os estudos há dois anos e pretende cursar Engenharia Civil.
Suporte escolar
Apesar da passagem pelo curso particular, a escola pública esteve presente durante toda a preparação da estudante rumo ao Enem. Aline cursou o Ensino Médio na Escola Estadual de Educação Profissional (EEEP) Professora Lysia Pimentel Sampaio Sales e se formou como técnica em edificações. “Eu saí da escola pública há três anos e mesmo assim os professores não deixaram de entrar em contato comigo para saber como eu estava”, conta.
A unidade é referência de boa educação no Estado. No ano passado, foi eleita uma das 100 melhores escolas públicas do país, em pesquisa realizada pelas instituições Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), Fundação Lemann, Instituto Unibanco e Itaú BBA. O objetivo do levantamento foi avaliar a qualidade do Ensino Médio brasileiro.
“Temos uma equipe que não acompanha só o desempenho dos alunos na escola, mas também oferece apoio social, psicológico. Saúde e educação, para a gente, andam juntos”, diz Ana Emília Dias Pinheiro, diretora da EEEP Lysia Pimentel. O investimento traz retorno em números: dos 150 alunos que fizeram vestibular em 2019, 132 conseguiram vaga no Ensino Superior – a maioria em instituições públicas. “A escola dá suporte durante todo o processo. Aula, vestibular, inscrição no Sisu, matrícula, tudo. Esse é o nosso diferencial”, conclui Ana Emília.
(G1 CE)